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terça-feira, 10 de maio de 2011

A sombra no cemitério



     Era noite, sexta-feira 13, cemitério, um péssimo dia para visitar parentes no cemitério, mas lá estava eu, a caminho do túmulo de minha mãe. Não era tarde, mas também não era cedo, a rua escura dava de frente ao portão do cemitério, com seu nome irônico “Céu”. Segurando as rosas em minhas mãos, senti as furando meus dedos, mas estava preocupado demais com a escuridão do que o sangue escorrendo pelas minhas mãos, me deu conta e limpei.
     Cheguei ao portão (não me parecia tão longe quanto eu achava ser), encontrei o porteiro; meio quarto de dentes, o que lhe sobrava estavam podres, enxergava apenas de um olho, e com seu cabelo grisalho, me mostrou o caminho correto a ir.
     Estava caminhando, toda hora olhava para trás, com medo de que algum fantasma puxasse minhas pernas, e me levasse o que me sobrará de minha felicidade. Comecei a apertar o passo, e acabei sufocando a ânsia que tinha dentro de mim. Quando percebi, já estava correndo, como se estivesse pessoas me perseguindo, mas embora a euforia, não havia ninguém. Enfim, me deparei com o tumulo, tão sujo; tão ríspido; tão medonho embora eu vá todo ano ali. Peguei o buque de rosas que encontrava em minhas mãos, o depositei sobre a lápide, e fiz um minuto de silêncio...
     Quase ao fim do ato respeitoso (como já é comum de mim) ouvi um chamado, virei para trás tenebrosamente rápido e avistei uma sombra, parecia uma criança, atrás daquele salgueiro tão grande que ali tinha. Perguntei quem há de estar ali com um tom de voz alto, ninguém me respondeu, e continuava a sombra imóvel. Então em um ato de loucura imersa, fui em direção a sombra, em guarda com minha lanterna que sempre levo para ocasiões como essas. E quando ouço:
- Rapaz, o que faz aqui?
     Não sabia a de onde vinha a voz, falei em voz alta que vinha visitar meu parente morto, deixar umas flores, logo recebi uma resposta a minha frase:
- Não tenha medo, não sou Deus, não sou Demônio, não sou ninguém, vá embora e esqueça o que ouviste neste lugar, ande logo, “nós” não gostamos de gente como você aqui, suma.
     Não havia batimentos em meu coração, estava pálido como um floco de gelo, e ainda mais curioso, fui ver quem que há de falar esta besteira, corri em direção a sombra, e acabei percebendo que ali não havia ninguém. Não consegui mais falar nada, muito menos pensar. Acabei saindo do cemitério com a dúvida de quem falou aquilo para mim, e até hoje não entendi quem era o “nós”.

quarta-feira, 4 de maio de 2011

Uma noite sombria

    



Era noite, numa pequena vila, a Lua está brilhante como sempre foi, como se ela fosse dona do mundo, pessoas andando e rindo de si próprias na viela estreita, eu? Eu estava em meu sofá, a espera dos meus amigos.
     Dá-lhe a hora certa, e senti alguém me chamando, eram meus amigos. Combinamos de ir à balada daquela cidadezinha tão pequena e simpática. Andando pelas ruas, e ruas, fiquei pensando como seria se eu não os tivesse ao meu lado, como seria ruim não ter amigos para sair e se divertir, para contar os segredos que nos enforca metaforicamente, filosofia acaba e percebi que estávamos frente a uma grande casa, sombria e escura, suas portas rangiam como se fossem pessoas sendo amedrontadas pelo medo, a Lua ofuscava a claridade da casa, e numa loucura só, resolvemos entrar na casa, e ver o que havia lá.
     Entramos nós três. Bia já estava com seus órgãos à mão, Carlos, não queria mostrar o quanto com medo estava, mas eu, não estava com nenhum, parecia um sentimento de felicidade, encontrar alguém que se encontra em medo maior que o meu. Logo, exclamei uma pergunta a Bia:
- O que viemos fazer aqui mesmo? Nem estamos bêbados.
- Viemos bagunçar ora, antes que de a hora de chegarmos à balada, v... va... Mas que merda é aquilo? Eu vi um vulto, eu vi juro! – gritava Bia com sua voz aguda e chata, parecendo um grito de terror americano.
- É o seu reflexo, sua boba, continuemos – tranqüilizou-nos Carlos.
     Logo, estávamos no segundo andar, não sabia até agora porque fora até lá, estávamos entediados, não sei a menos. Ouvisse um uivo, uivo de um lobo se perdendo a fora seu pequeno rabo, imaginamos o pior das coisas possíveis: um homem com uma foice gigante? Uma bruxa com seu caldeirão tenebroso? Ou apenas uma briga de cães?
     Depois do uivo, ouço uma voz tristonha, pálida, de gente que já viveu muitos anos:
- Quem há de estar em minha casa, saíam daí rápido, antes que eu mate-os com meu facão.
     Com o coração na mão, saímos em guarda, gritando pelas nossas vidas medíocres. Não nos mate, não nos mate, somos apenas jovens, não estamos fazendo nada; lembro-me até agora dessa frase dita por uma pessoa que tinha o medo contido em sua alma.
- Basta, saiam daqui antes que eu chame a policia, saiam malditas crianças.
     Corremos, corremos tão rápido, que parecíamos voar pelas ruas, mas era apenas uma ilusão. Chegamos ao nosso destino, apavorados, e percebemos que o melhor a fazer agora, seria voltar as nossas casas, porque emoções tivemos muitas hoje para nossa encarnação toda. E acabei tirando proveito disso, para nunca mais entrar numa casa escura, sem motivo nenhum.